Tuesday, December 21, 2010

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Sunday, December 19, 2010

Se Eu Quiser Falar Com Deus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar

Gilberto Gil

Friday, December 17, 2010

Poema da Necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

Carlos Drummond de Andrade

Tuesday, December 7, 2010

E-mail Zeza Amaral - Campinas - Dec/08/10

PS:
Quando os trovões soaram de madrugada, senti que o velho ferreiro havia retornado à bigorna do som. 
Acordei e a companheira estava olhando a tempestade da janela do quarto. 
Sorrindo, me disse que a chuva estava afinada como nunca. 
E tudo fez sentido e tornou o nascer do sol como antes.
Bom retorno, Marco.
Zeza

Tuesday, November 9, 2010

História de Um Prego

Meu filho, corre
Vem sentar aqui comigo
Sou teu pai
Sou teu amigo
Eu quero te aconselhar
Vê na parede aquele prego, ali pregado
Ele sabe meu passado
Mas eu quero é te contar
Naquele prego eu já pendurei meu laço
O arreio do Picasso
Cavalo de estimação
E um par de esporas
Que custou muito dinheiro
E o chapéu de boiadeiro
Que eu lidava no sertão
Naquele prego pendurei muito cansaço
Muito suor do mormaço
E poeira do estradão
E quantas vezes minha mágoa
Eu pendurei
Sentimentos eu guardei
Pra não magoar teu coração
De agora em diante
Eu vou tirar dele meu laço
O arreio do Picasso
E as esporas eu vou guardar
Naquele prego pendure uma sacola
Cheia de livros da escola
E vontade de estudar
Quando amanhã você estiver aqui sentado
Lembrando o nosso passado
Olhando o prego pioneiro
Quero que seja um doutor bem afamado
E diga sempre em alto brado
Sou filho de um boiadeiro

João Pacífico

Monday, November 8, 2010

Endechas a Bárbara Escrava


Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo,
E, pois nela vivo,
É força que viva.

Luís de Camões (1524-1580)

Sunday, October 31, 2010

Viva

Que bela nação é o meu chão, que não habito.
Mesmo suando e lutando, meu povo ainda cria.
Que maravilha ver a agora pela TV, aqui do outro lado do mundo, um menino completamente lúcido e enlouquecido tocando o piano como se fosse uma brincadeira inerente a um jovem de 19 anos.
A arte de tocar, sambar e de jogar bola, com o balanço e a destreza da malandragem lúdica e bela da dança da sobrevivência e criatividade.
Equlibristas da arte e da bola, nascem como nascem as flores, embelezam nossos olhos como deve ser a arte, como foram os grandes mestres das telas e da estética que o tempo limitou aos fatos e atitudes do tempo de cada um.
Tempo que impõe o limite para a democracia artística que separa movimentos e divide opiniões.
Mas que prazer ter o prazer de ver a arte nas mãos, nos pés, nos corpos e nas mentes e atitudes de pessoas que brotam como brotam olhos d’água nessas areias desérticas dos negócios da arte e ganhos da intelectualidade lucrativa, que rude, resiste o nosso chão, mesmo pobre e puído dos desmandos.
Mesmo assim; como é boa essa minha terra de arte nativa de calor amoroso, tudo verdinho e azul, que tem sido pelos anos manchada pela coisa cinzenta, turva e áspera, tingindo a suavidade da nossa história com a dureza das vantagens.
Viva meu céu, viva minhas estrelas, viva meu mato, viva meus ventos, viva nossa pele, viva nossos olhos, viva nossos cheiros e viva nossos suores, que aos poucos vão se misturando e adoçando o sal de nossos poros.
Viva minha mocinha, viva as mãos e pés maravilhosos da arte espontânea e os corações que se misturam na seqüência dos olhares eternos.
Viva você; minha vida....

Marco Bosco
Tokyo/2008

Saturday, October 30, 2010

Poema do 44


Eu calço 44.
E causo espalhafato quando cruzo as pernas no salão.
Logo aparece alguém dizendo: Meu Deus do céu, que sapatão!
Eu calço 44 e sou motivo de riso, objeto do deboche, dessa gente ignorante.
Que ainda se assusta; que ainda se admira com o homem do... Pé Grande.
Eu calço 44 isso não é defeito.
Sou um homem bem dotado.
Exijo respeito!
E olhe? Eu calço 44 quando o pé esta mole! 

Eliakin Rufino
* Gravado na mesa de um bar em Manaus/AM

Wednesday, October 27, 2010

Pensando bem?


Eu que pensei que podia escolher meus amores, como a mãe  escolhe o caminho dos filhos.
Eu que pensei que fechando os olhos ninguém poderia me ver.
Eu que pensei que pensava...
Eu que sempre estive aqui comigo, bem que  podia ser uma letra de rock balada e andar por ai nas  bocas e ouvidos de quem pode realmente ouvir.
Sei lá quantas ruas tive que atravessar, e muitas  atravessei fora da faixa.
As faixas brancas no escuro do asfalto, são colocadas pelos homens, mas essas faixas que a gente atravessa, quem será que as põe?
Do lado de cá, pode-se bem ver o lado de lá, que pode ser o lado de dentro, que é uma coisa bem complicada não fossem nossos olhos de olhar o passado.
Se bem que os velhinhos, artistas e fazedores de coisas bonitas, estão com mais de 60 ou 70 parecendo adolescentes e sorrindo, com todas as rugas que a vida pôs em suas faces.
Rugas que como leito de rio, correm e se entrelaçam todas na mesma direção, caminhando para um lugar mais espaçoso e calmo, aportados na sabedoria e suavidade do tempo.
Eu que pensei que minhas rugas poderiam ser diferente. Não sei porque essa besteira. Talvez porque as minhas só as vejo do lado contrário do espelho que me vê.
E como no espelho a imagem se forma atrás, como é que  pode ver-se de frente?
Melhor não pensar em que pensava.
Eu que pensei, que seus olhos refletiam os meus.
Eu sabia que pensava; só não pensei que não sabia o que pensava.
Eu que pensei que podia escolher...


Marco Bosco

Saturday, October 9, 2010

Cuidado!

Em caso de voce ter uma casa. Preste atenção e cuidado.
Você pode estar casado e em caso de divergência comunicar ate 5 dias após o vencimento.
Se os sintomas persistirem, procure um médico. Com urgência. Mas um médico solteiro.
Em caso de incêndio, finja naturalidade e não se apavore, procure a saida de emergência. Sempre tem uma escada estreita.
Como dizem os manos da moóca: Mano; fica esperto com seus pertences....
A coisa vai indo...vai indo... e quando vê foi mesmo.
As peles são macias, as curvas inebriantes: mas a dureza do chão é implacável como a erosão do tempo.
Parafrasenado Vinicius: melhor não te-las, mas se não te-las como sabe-las?


Marco Bosco

Wednesday, October 6, 2010

Saturday, October 2, 2010

Video Gallery


Get Gigs
Quantcast

Desejos

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade

Todos os Dias

 
Todos os dias são bons! Alguns melhores, outros piores, mas há aqueles que o pior tem o significado exato da palavra.
São aqueles dias em que o filme passa tão rápido que você tem que voltar a fita. E quando volta a fita, passa tudo tão devagar que é possível sentir todos os centímetros da saudade, ou sei lá o que, mas acho que isso acontece quando o peito embranquece e luta em ficar sadio.
O que nos salva, são o céu, a história, e claro, essa coisa de amar, de preferência amar tudo, amar até o ódio como um sentimento que exercita seu coração e te faz ver quanto é quentinho gostar das coisas.
Mas gostar de alguém que já virou sua história não é tão fácil como deveria ser natural. Seu corpo carrega todas as sensações e temperaturas que te fazem viajar sempre para trás, mesmo quando viaja para frente procura aquela coisa que esteve ou está lá atrás. Realmente é um aborrecimento sentir essa coisa!
A pele da gente parece ser feita de camadas, que o tempo vai escrevendo e fica lá pra sempre, não adianta lavar; não sai mesmo!
Sabem aquela madeira velha que já foi pintada várias vezes? Assim ficamos...
A gente pensa que a última cor possa ser a mais bonita, mas na verdade elas se misturam todas, e a gente acaba mesmo ficando sem saber qual é a cor, e ai; começa aquele aborrecimento até que gostoso de lembrar tudo que dá pra lembrar e esquecer o que não dá.
Sem contar que também que seu olfato te apronta! Lembra daquele perfume? Pois é! Não há como evitar. E as mãos? Acostumadas com a pele grossa do tambor, também têm sua memória!
Tem também aquele seu velho amigo que esta virando um espelho pra você, o velho amigo já esta virando um amigo velho. Você nunca percebe bem seus cabelos brancos e seu corpo já vítima da gravidade dos anos até olhar seu querido amigo, que sem perceber, você ainda esta usando aquela imagem gravada há muitos anos em suas retinas.
Mas mesmo com os olhos meio cansados de insistir em assistir as vidas, sempre será um prazer olhar em todas as direções até que chegue a hora em que só vou poder olhar pra cima e para dentro; mas deve ser bom também, afinal, bem lá dentro haverá de estar cheinho de imagens, temperaturas, perfumes, cores e memórias.

Marco Bosco
Tokyo 27/Fev/2007

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Sou um evadido

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

Fernando Pessoa

Curvas

Curvas, são muito importantes e uma questão de sobrevivência.
As retas são monótonas, podem nos levar mais rápido aos lugares que imaginamos, mas, a gente perde a noção da distância, parece perto mas nem sempre o é.
Círculos, estão completamente fora de questão!
A gente sempre fica olhando pra dentro e acaba no mesmo lugar.
As curvas não... Elas são ótimas!
Nas curvas você pode olhar um pouco para trás , mas continua andando para frente.
As curvas desviam dos obstáculos, contornam as montanhas e nos proporcionam lindas paisagens e um certo perigo, as vezes pequenos, as vezes enormes.
Por exemplo: As curvas que habitam esse seu corpo.
Perigosas e com uma paisagem avassaladora, como os olhos de ver o mar.
As curvas sonoras que amaciam suas palavras e as trazem bem devagarzinho.
Como as curvas de uma pedra atirada na água que estava calminha e parada.
As curvas do seus cabelos negros curvando-se em seus ombros, que em perfeitas curvas harmonizam-se com as curvas dos seio da mãe, que na planície breve do seu ventre, se espalham pelas curvas do seus quadris, explodindo suavemente em suas pernas arredondadas e com curvas extremamente perigosas.
E com outro conjunto de paisagens poéticas com a beleza de uma tela de Rembrandt, a seriedade de uma tela de Rubens e a imponência de uma tela de Delacroix.
Vista pelas costas; suas curvas são a essência da exuberância, são o perigo na sua maior suavidade e excitamento.
Acabei de descobrir que o pecado, o doce sabor do veneno, o fogo, a beleza, a paixão, a loucura, a cumplicidade e a hemorragia dos sentimentos, contém muitas curvas.
Como as que terei que caminhar até chegar aí, nesse universo de curvas e paisagens de encher os olhos e o coração...

Marco Bosco
Tokyo 23/Nov/2008

Os Seus São os Meus

Depois dessa antípoda noite/dia, ainda estou aqui procurando alguma coisa para dizer dos seus olhos ou aos seus olhos, mas como vejo seus olhos com os meus, e se olhar bem para os seus eles refletirão os meus! Então posso dizer a mim mesmo o que vejo nos seus.
E acabei de perceber que tenho que conversar muito com meus olhos.
Eles precisam ter cuidado em olhar os seus.
Sabe aquela coisa dos olhos, que você olha e parecem estar parados e não importa onde vá, eles te seguem? São assim que os meus vêem os seus.
Ainda bem que a terceira visão é discutível; não seria justo três dos seus contra dois dos meus.
Assim como já são os seus; causam o maior estrago e desequilíbrio nos meus.
Mas com certeza, nesse momento os meus já não enxergam sem os seus.
A harmonia e a profundidade misteriosa e bela dos desenhos da sua face, você pode ver refletidos nos meus, que agora são seus.
O que vejo claramente é esse seu sorriso ao contrário; os olhos bem abertos e seus lábios fechados irritando Da Vinci, pensando que aquele sorriso era só seu.
Olhos com a grandeza da mata que te povoa, olhos com as raízes profundas que te seguram na terra e nunca te deixarão se curvar ao tempo.
Olhos que contam que os meus continuem sempre refletindo os seus como quero eu.
Água doce e perfumada do mato, que no profundo dos seus mergulham os meus...


Marco Bosco
Tokyo 25/Nov/2008

SOB NOVA DIREÇÃO!!!

Há muito tempo meu ofício me fez abrir uma loja, e para mantê-la aberta, custou minha vida toda, até esse vivo momento.
Me especializei em trabalhar e vender sonhos e muitos foram os clientes.
Alguns acreditaram no que eu vendia e até compraram, outros pediram fiado e nunca mais pagaram, mas sei que foram felizes, só não puderam pagar.
Outros não se interessaram e não voltaram mais.
No começo vendi muita farra e alucinações, pacotes perfeitos para amores efêmeros e desesperados, mas na maioria expiravam na manhã seguinte após a coca-cola gelada.
Declarações de amor emergenciais que pudessem passar a dor rapidamente, também havia muita saída
Paixões de um a sete dias, também tinham boa aceitação, eram vendidos como pacotes turísticos em ocasiões especiais, quando a solidão se tornava extremamente perigosa.
Pacotes de carinho e dengos, tinham clientes regulares, mas em pouca quantidade, geralmente levavam um tempo para convencer e vender aos clientes antigos que chegavam a conclusão, que esses eram produtos muito bons.
Esses clientes rarearam com o passar dos anos, mas os pacotes de amor... Ah! Esses estavam empoeirados, não haviam meio de sair!
Nunca mais ouvi alguém chegar com "a" certeza no balcão e pedir com o coração.
Passaram-se quase quarenta anos, quase insolúveis problemas fiscais, mobília velha, balcão quase acabado, o chão já gasto pelos clientes que andavam pelos mesmos caminhos; e eu, mais que nunca querendo vender meus sonhos, talvez por egoísmo ou insistência, sempre tive "a" certeza que sou o melhor cliente de mim mesmo.
Mas aconteceu um dia: a fiscalização me pegou!
Meus papéis estavam sem atualizações, muitos dos meus pacotes emocionais estavam vencidos há anos, até o livro de fiados estava inelegível.
Eu tive que fechar a loja, mas não entreguei o prédio.
Isso nunca faria, afinal como dizia Tom Jobim, sou o síndico de mim mesmo, e sempre compareço e presido as assembléias.
Até tentei fazer alguma propaganda da minha velha lojinha, mas tive que fechar.
Mas como não entreguei o prédio, ainda guardava os velhos e empoeirados pacotes de amor, e como sempre sonhei e vendi sonhos, em um dia frio de Novembro, chegou uma resposta " 'a minha antiga propaganda".
Alguém querendo comprar um pacote de amor!!!!
Que raridade mais antiga e fiel!
Como a loja estava fechada, tive que atender particular e pessoalmente.
E para minha sorte; tudo que havia guardado há anos serviu como uma luva.
Pude resolver os problemas fiscais, a mobília não mais pareceu tão velha, o balcão reparando bem, continuava lindo. O chão mesmo velho parecia novinho e brilhando.
A cliente que entrou sorrindo; vendi o pacote para esta que será, sempre, "a cliente especial".
Então, finalmente resolvi reabrir a loja com uma grande festa e anunciar novamente;
" Sob Nova Direção".

Marco Bosco
Tokyo 30/Nov/2008

Monday, June 14, 2010

Starting

Here will be the place to talking. I just start, later on you will see a lot's of bla bla bla