Sunday, September 16, 2012

Bilhete para um ex-grande amor!!!!


Música para um ex-grande amor
"Tatiando"Marco Bosco solo performance live at Blue Note Tokyo/ April/2009


Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto/Bebi teu licor/Arrumei a sala, já fiz tua mala/Pus no corridor/Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo/Te tirei das entranhas/Fiz um tipo de aborto/E por fim nosso caso acabou, está morto/Jogue as cópias das chaves por debaixo da porta/Que é pra não ter motivo/De pensar numa volta/Fique junto dos teus/Boa sorte, adeus.
Um amor violento quando torna-se mágoa é o avesso de um sentimento: oceano sem água. É no intertexto das músicas que se tece este texto. Ele é sobre o fim do amor que deve acabar, sobre o amor que era mar violento e se tornou deserto árido. Que, vamos abrir o jogo, não vale mais o que o gato enterra, mas de que você não consegue se desvencilhar. É como se fosse um velcro atrofiado…
Há amores que são tóxicos. Começam a fazer mal, a escravizar. Amores que sufocam, afogam, nos alzeihmerizam a alma. Amores de quem queremos distância, mas dos quais não conseguimos nos despregar, tal o visgo que se construiu na época  em que ele era bom. Era. Foi-se.
É preciso morrer para viver. Sem se matar o amor apodrecido, fétido, não se pode recomeçar. A brisa do amor não sopra se não forem fechadas as janelas de um lado e abertas as portas de outro. Para deixar o amor putrefato ir embora. Tchau, adeus! É preciso coragem – que sempre falta. É preciso desprendimento – que nunca vem. É preciso culhão – que parece ter ficado perdido nas tórridas noites de sexo que se foram. Mas respire fundo e toque o barco!
Luto. É preciso curtir o luto. Deixar ir. Porque se sabe que faz mal. Muito mal. Todos sabem. Só um resto de nós, uma parte teimosa, insiste em ficar ligado ao amor parasita, que nos suga. Benefício lá, malefício aqui. Mas ele nos suga para ele unilateralmente. Diferente da época em que nos sugávamos mutuamente, por prazer. Deixe ir! Coragem! É preciso respirar! Mande embora essa coisa!
Quebre o prato! Tranque o quarto! Beba o licor! Rasgue os papeizinhos! Apague os e-mails! Delete o nome dele do seu celular e da agenda da sua vida! Dê-lhe um block na vida! Unfollow na sua alma! Dê um delete nele, inclusive na lixeira depois. Shift del nesse vírus da sua vida!
Arrume a sala! Arrume a vida! Retome o controle de seu coração! Expulse esse merda! Faça as malas deles e ponha no corredor! Limpe sua alma, dê uma polida em sua aura, retire esse troço do seu corpo! Assepsie-se! Sinta o Fenergan da decisão entrando em sua alma e limpando a alergia que esse ser te dá. É, não é fácil! Tem de arrancar das entranhas, é um tipo de aborto! Vai doer? Vai! No corpo e na alma! Vai ter vontade de chorar um rio? Chore! Tem medo da vida ficar sem sentido? Por uns tempos. Depois pega vento de novo! Não vale mais a pena! Não vale mais. Aceite! Vai por mim. Já estive aí! Tem de ser na porrada!
Se ele não quiser entender, problema dele! Não é você que tem de fazê-lo entender. Não caia nessa! É só o que resta de você preso nessa coisa que faz você ficar inventando desculpas fuleiras para não se desligar! Diga para ele: “Me larga, não enche! Me deixa viver, me deixa viver! Me deixa viver, me deixa viver… Cuidado, oxente!” Está no seu querer poder fazer o tal desabar… Complete: “Pra rua! Se manda!” A mala… a mala tá aí fora! Grite: “Sai do meu sangue, sanguessuga que só sabe sugar! Pirata! Malandro! Me deixa gozar, me deixa gozar, me deixa gozar, me deixa gozar…”. Saque mil caetanos para esse lazarento!
Acabou! Está morto. Enterre. Chore. Gaste o luto. Sem isso, nada feito. Legal o que se passou de bom. Mas já era! Hello-ô! E não dê motivos, não tome o primeiro gole dessa pinga amarga… Não fale mais com ele… peça que jogue a cópia da chave por debaixo da porta que é para não ter  motivo de pensar numa volta.
Ah, e se ele sentir a perda? E se ele sofrer? Não é problema seu. Ele que fique perto dos seus e se vire. Não é você que vai tomar conta disso… você não é mais dele, não precisa mais fazer isso. Componha-se! Amor próprio! Isso! Não fique parada! Há uma estrada pela frente! Não permita ninguém bloquear seu caminho, o passeio de seu caminhar… Vá embora… Vá cuidar da vida! Quer algum recado para ele? Que papel é esse? Tá, eu entrego. Eu! Não você. O que está escrito aqui…? É. Boa sorte e adeus! Foi a melhor decisão…

texto do Professor Sergio Freire
http://blogsergiofreire.wordpress.com/2011/02/09/bilhete/

Saturday, September 15, 2012

Amazônia




Águas do Rio Negro

Eu, como um garoto paulista nascido em 1956, acostumado ao meu matinho, sempre imaginei a realidade  dos olhos pousado no verde e nas águas do amazonas, pensando ser igual a floresta dos filmes do Jim das Selvas e Tarzan.
Em  1981, no então projeto Pixinguinha, que pela primeira vez vinha a  Tucuruí, Rio Branco, Manaus, Macapá, Boa Vista e Belém.
Em minha passagem por Belém, onde conheci o jovem Nilson Chaves e principalmente em Manaus, foram muito marcantes e  impressionante para aquele menino caipira de Torrinha.
Desde então passei a ter uma relação mais efetiva e curiosa com a Amazônia, principalmente pela sonoridade natural da floresta e das águas e lendas e povos da floresta.
Em 1986, baseado nos textos de Nunes Pereira ( A lenda Do Guaraná) e  Marcio de Souza ( As Folias do Látex), trabalhei junto com Paulo Calasans sobre o tema, primeiramente para trilhas de duas companhias de danças de São Paulo, que viraram  um álbum só, (Hánêréa, The Power of Nature) editado e lançado somente no Japão e Europa em 1990.
Minhas lembranças em sons e imagens, desde essa primeira “Tour Verde”, além das registradas, ficaram sempre muito presentes, principalmente pela grandiosa imensidão, silenciosa e tão sonora ao mesmo tempo.
Nunca mais pude deixar de ter sons de muitas sementes da terra, que soam como água, e muitos pássaros que levo em minha sacola, onde quer que eu vá.
O rasgo que o Solimões, Negro e Amazonas, fazem no planeta é a ilha Amazônica, lá o céu e a hora são diferentes e o inverno cai numa quarta-feira em dezembro!
A constatação e certeza de um Brasil diferente e  separado.
Alguém já disse que o Brasil esta de frente pro mar e de costas para o Brasil?
De uma maneira ou outra sempre acabei esbarrando no Amazonas.
Em novembro de 2008, mais uma vez o coração começou a me trazer para o Amazonas e no final do ano de 2009 apareceu a chance de trabalhar em Manaus, pela primeira vez em radio,  e durante o ano de 2010, fui levado pelo coração e pelas mãos de Tatiana Sobreira, jornalista e personalidade do radio e televisão da Amazônia.
Aí não parou mais....
Veio também, Seigen Ono, engenheiro japonês veio a Amazônia registrar seus sons, e pela primeira vez no mundo testar um equipamento de gravação móvel de última geração ainda em protótipo, desenvolvido pela Universidade de Waseda em Tokyo.
A Amazônia foi longe e  nos trouxe muito mais, com projetos de gravação com Leila Pinheiro, Nilson Chaves, Vital Lima e Eliakin Rufino  e as novas amizades de Celio Cruz e Euterpe.
E agora Amazônia Convida, tudo unido e sonorizado pela águas e o silêncio ruidoso da floresta.

Marco Bosco


(A partir texto do curador  publicado no programa dos concertos “Amazônia Convida”,  entre julho e novembro de 2012 no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro)